O carneirinho
Junta-se ou sendo sincero, juntava-se a moçada da vizinhança, menina e menino, normalmente á tardinha depois da escola, pois não havia três turnos, e ficávamos lado a lado, de mãos dadas, formando uma cerca atravessada na rua e, um voluntário, ou voluntária, uns dez passos á frente, era o carneirinho.
A brincadeira tinha as seguintes regras:
Oferecíamos guloseimas, coisas de comer que o carneirinho gostava e pulava para frente e quando não gostava, pulava com raiva, para trás e assim aproximava ou se afastava da cerca que se fechava assim que o bobinho não tinha mais chance de voltar.Começava assim:
-Carneirinho quer doce de leite?
-Quééé.
-Carneirinho quer goiabada?
-Quéééé. Quéééé
-Carneirinho quer jiló com pimenta?
-Nééém.
Pois é, já ia me esquecendo de dizer que na cerca havia simpatizantes ou não do carneirinho, daí o cardápio oferecido variava e muito.
Mas, uma vez preso, o carneirinho tentava sair, mas era da regra não passar por baixo, nem saltar por cima; o certo era arrebentar a cerca. O carneirinho escolhia sempre onde ela parecia fraca, formada por braços e mãos de meninas com meninas e, uma vez livre, desembestava a correr e negacear para não ser pego, mas sempre era agarrado e quem o agarrasse era o próximo carneirinho.
Quando a vez de ser carneiro caia para uma criança ela era agarrada muito rápido; menino ou menina grandes dava uma canseira arrebentar a cerca, ou correr e agarrar o carneirão. Compreensivos, os adultos, pai, mãe, tio, tia, brincavam com a gente e era comum, deixavam arrebentar a cerca ou serem agarrados mais facilmente pelas crianças.
Os avós, no ocaso das forças físicas, ou por vergonha de velho, aplaudiam os netos e faziam observações rigorosas aos filhos:
-Esse fulano, ou fulana, parece que não cresce no miolo, só tem tamanho.
Ìamos dormir cansados, mas, famílias felizes, tendo sempre rezado o Santo Anjo do Senhor, dado e ganhado um beijo de boa noite.
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